A indústria do cinema, música e desporto está a mobilizar-se contra possíveis mudanças regulatórias na União Europeia que possam eliminar o geo-blocking. Os detentores de direitos argumentam que acabar com esta prática desvalorizaria os conteúdos, levaria ao aumento dos preços para consumidores em certos países e reduziria o investimento em conteúdos e serviços localizados. Mas que impacto ao certo poderá ter o fim das restrições geográficas no streaming na Europa?
O papel do geo-blocking no mercado do entretenimento
Apesar da Internet ter tornado o mundo mais acessível, as barreiras artificiais continuam a existir, sobretudo na distribuição de conteúdos audiovisuais. Filmes, séries e eventos desportivos são vendidos com base em licenças geográficas, permitindo que os detentores de direitos maximizem receitas em cada região. Se o preço oferecido num país não for suficiente, o conteúdo simplesmente não é disponibilizado.
Este modelo é essencial para a transmissão de eventos desportivos ao vivo, onde o valor dos direitos de transmissão depende da procura regional. Em mercados onde a procura é maior, as licenças são mais caras, e parte desse custo é transferido para os fãs.
A União Europeia e a luta contra restrições geográficas
Os consumidores estão cada vez mais a contornar estas restrições através de VPNs, frequentemente promovidas por criadores de conteúdo. No entanto, as empresas detentoras dos direitos veem esta prática como um abuso como refere o site TorrentFreak.
A União Europeia já interveio no passado para eliminar certas formas de geo-blocking, no âmbito da criação do Mercado Único Digital. Contudo, os conteúdos audiovisuais excluiram-se dessa regulamentação, uma decisão que agradou à indústria do entretenimento. Agora, com uma nova revisão das regras em curso, a possibilidade de mudanças preocupa os grandes estúdios e as plataformas de streaming.
Hollywood, Netflix e Amazon preocupados com possíveis alterações
A Motion Picture Association (MPA), que representa os principais estúdios de Hollywood, Netflix e Amazon, apelou à Comissão Europeia para manter a exclusão dos conteúdos audiovisuais da regulamentação. A MPA defende que a exclusividade territorial é fundamental para o desenvolvimento e financiamento de produções culturais e linguísticas diversas.
Segundo a associação, eliminar as restrições geográficas poderia desvalorizar os conteúdos e dificultar a recuperação do investimento feito na produção e distribuição de filmes e séries. Além disso, tal poderia ter impacto nos preços das assinaturas de streaming e no financiamento das salas de cinema europeias.
O setor desportivo também está em alerta
A Audiovisual Anti-Piracy Alliance (AAPA), que representa gigantes como a Premier League, Sky, beIN e Viaplay, teme que o fim do geo-blocking tenha efeitos negativos para os consumidores. A AAPA alerta que a procura por conteúdos varia consoante a região, e um preço único para toda a UE poderia prejudicar consumidores de países com menor poder de compra.
De acordo com a organização, até 100 milhões de adeptos europeus poderiam enfrentar aumentos de preços, enquanto serviços localizados, como transmissões com comentários em línguas locais, poderiam-se reduzir por falta de investimento.
A indústria da música teme o aumento da pirataria
O setor da música também está preocupado com eventuais mudanças. Embora as licenças geográficas sejam menos comuns, os preços das assinaturas do Spotify e de outros serviços variam de país para país. Ou seja, refletindo o poder de compra local.
A IFPI, associação que representa a indústria musical, alerta que o fim do geo-blocking poderá levar ao encarecimento das subscrições em alguns países. Isto tornaria-as inacessíveis para muitos consumidores e incentivando a pirataria. Isto poderia reduzir as receitas da indústria e afetar o investimento em música, especialmente em mercados menos ricos.
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