Prepare-se: a partir desta quinta-feira, Portugal vai voltar a ser invadido pelas poeiras vindas do norte de África, com especial incidência durante quinta e sexta-feira. Este fenómeno, cada vez mais recorrente, deverá manter-se até sábado, altura em que as concentrações começarão a dissipar-se.
Poeiras do Saara invadem Portugal com estes riscos ocultos
Apesar de ainda não se conhecerem bem todas as causas por trás desta frequência crescente, acredita-se que as condições extremas de seca, a desertificação crescente e as alterações climáticas estejam a criar um cenário ideal para que mais partículas se libertem do solo do deserto e sejam transportadas até à Europa.
Mas o impacto não se resume à paisagem alaranjada ou aos carros cobertos de pó. Estas nuvens de poeira escondem perigos para a saúde — e nem todos são visíveis a olho nu.
O que transportam as poeiras do Saara? Mais do que imagina
O efeito destas poeiras depende sobretudo da concentração e da altitude a que viajam. Quando permanecem em grandes altitudes, o impacto direto à superfície é menor. Mas quando atingem camadas mais baixas da atmosfera, podem deteriorar gravemente a qualidade do ar, com implicações sérias para quem sofre de problemas respiratórios ou cardiovasculares.
Além disso, estas partículas trazem consigo microrganismos, incluindo possíveis agentes patogénicos. Estudos já revelaram uma ligação entre tempestades de poeira e aumento de casos de meningite bacteriana em algumas regiões. Acredita-se que este efeito se deva mais à irritação provocada nas vias respiratórias e às condições meteorológicas do que à presença direta das bactérias nas poeiras.
Há ainda registos de partículas com resíduos radioativos, provenientes de antigos testes nucleares realizados no deserto argelino durante os anos 70. No entanto, os níveis detetados são geralmente considerados seguros e sem risco para a saúde humana.
Um verdadeiro motor atmosférico
Durante muito tempo ignoradas, as poeiras do Saara são hoje reconhecidas como elementos-chave no equilíbrio do clima global. Afetam a radiação solar, a formação de nuvens, a composição química da atmosfera e até a evolução de fenómenos extremos, como ciclones tropicais.
Por exemplo, estas partículas atuam como sombras naturais, bloqueando parte da luz solar e provocando um arrefecimento da superfície terrestre. Mas podem também absorver radiação infravermelha, gerando efeitos de aquecimento localizados. A ciência ainda está a tentar determinar se, no balanço global, a poeira contribui mais para o aquecimento ou para o arrefecimento do planeta.
Ao servirem de núcleos de condensação, as poeiras favorecem a formação de nuvens e podem até intensificar a precipitação em certas regiões. Este é um campo de investigação em rápido crescimento.
O que fazer?
Entretanto durante os dias de maior concentração (quinta e sexta-feira), recomenda-se:
- Evitar atividades físicas intensas ao ar livre, sobretudo se tiver asma ou outros problemas respiratórios;
- Manter portas e janelas fechadas, principalmente nas zonas mais afetadas;
- Utilizar máscaras ou filtros de ar, caso necessário;
- Acompanhar os avisos meteorológicos e ambientais.
As poeiras do Saara são um espetáculo natural impressionante — mas escondem riscos que exigem atenção. Portugal estará sob o seu efeito nas próximas 48 horas.