Para algumas pessoas, viver nas proximidades de linhas de alta tensão é motivo de preocupação. E não estamos apenas a falar do perigo óbvio de um cabo elétrico partido cair sobre uma casa ou jardim. O receio maior está relacionado com os campos eletromagnéticos (EMFs) que estas estruturas emitem — e os possíveis efeitos na saúde humana. Um medo que, de certa forma, faz lembrar aquele mito antigo de que os telemóveis causam cancro.
Viver perto de linhas de alta tensão faz mal à saúde?
O que são afinal os EMFs?
Primeiro, vale a pena esclarecer: não estamos a falar do fenómeno que provoca o zumbido irritante que por vezes se ouve junto às linhas elétricas. Isso é resultado de um fenómeno chamado descarga de corona. Os campos eletromagnéticos são, na verdade, um subproduto perfeitamente natural da eletricidade em movimento. Sempre que uma corrente elétrica passa por um cabo, é gerado um campo eletromagnético à sua volta — e quanto mais intensa for essa corrente, mais forte será o campo.
Linhas de alta tensão, como é óbvio, transportam grandes quantidades de eletricidade. Por isso, sim, emitem EMFs. Mas isso não é exclusivo delas: até os cabos com que carregamos os nossos telemóveis também emitem campos eletromagnéticos — apenas a uma escala muito mais pequena.
Devemos preocupar-nos com os EMFs das linhas elétricas?
É sempre sensato manter distância de linhas de alta tensão, por uma questão de segurança geral. Um choque elétrico pode ser fatal, por isso o bom senso recomenda que fiquemos afastados — o que, por coincidência, também reduz a exposição a EMFs, já que esses campos perdem intensidade com a distância.
No entanto, os EMFs em si não são uma sentença de morte. O que muitas pessoas temem, na verdade, não são os campos eletromagnéticos propriamente ditos, mas sim a radiação eletromagnética (EMR) que eles emitem.
Mas e a radiação? Isso não é perigoso?
É aqui que convém fazer uma distinção importante: nem toda a radiação é igual. A luz visível, por exemplo, é um tipo de radiação eletromagnética — e estamos expostos a ela todos os dias.
O que realmente causa danos diretos nas células do nosso corpo é a chamada radiação ionizante (como a usada em exames médicos como TACs ou nos scanners dos aeroportos), que tem energia suficiente para remover eletrões dos átomos. Já a radiação emitida pelas linhas de alta tensão é não-ionizante. Isto significa que não tem energia suficiente para provocar esse tipo de dano.
Claro que, em exposição contínua e muito próxima, mesmo a radiação não-ionizante pode ter efeitos negativos. Mas o simples ato de passar por debaixo de uma linha elétrica de vez em quando não representa qualquer perigo real.
Conclusão: viver perto de linhas elétricas é (quase sempre) seguro
Não precisa de se preocupar se a sua casa fica a alguns metros de uma linha de alta tensão. Desde que não esteja a passar horas deitado debaixo delas todos os dias, os campos eletromagnéticos que emitem não são perigosos na dose normal de exposição.
Se ainda assim tiver dúvidas, o ideal é manter uma distância razoável e evitar contacto direto com infraestruturas elétricas — por precaução. Mas em termos de saúde, os EMFs das linhas elétricas não representam um risco comprovado para a maioria das pessoas.