Uma equipa de biólogos marinhos de Tenerife, nas Ilhas Canárias, capturou em vídeo um raro peixe-diabo preto pela primeira vez à luz do dia, à superfície do oceano e nesta região. Rapidamente esta informação começou a percorrer as redes sociais e há publicações um pouco por todo o lado. Mas afinal que peixe é este que está a assustar o mundo?
Um peixe que está a assustar. Porquê?
A peculiar criatura das profundezas do mar, que já inspirou os criadores do filme de desenhos animados da Disney de 2003, À Procura de Nemo, para uma personagem sinistra, foi vista a nadar perto da superfície do mar a uma distância de apenas dois quilómetros da costa. Isto em 26 de janeiro de 2025, numa observação inesperada para os cientistas.
A espécie, também conhecida como peixe-pescador abissal ou corcunda ou Melanocetus johnsonii, é normalmente encontrada em profundidades de 200 a 2000 metros, onde sobrevive graças à sua bioluminescência que atrai as suas presas.
@europapress LA ONG Condrik-Tenerife ha publicado las primeras imágenes de un diablo negro o rape abisal adulto vivo, a plena luz del día y en la superficie, a tan solo 2 km de la costa de Tenerife. La bióloga marina valenciana Laia Valor detectó este ser en la superficie, por lo que los biólogos Marc Martín y Antonio Sabuco, y el fotógrafo de fauna marina David Jara registraron estas imágenes del animal. (Fuente: ONG Condrik-Tenerife, Laia Valor, Marc Martín, Antonio Sabuco y David Jara) #diablonegro #pez #peces #tenerife #rapeabisal ♬ sonido original – Europa Press
Avistamento inesperado do peixe-diabo preto em águas pouco profundas
Até agora, as filmagens e imagens do peixe diabo negro limitavam-se a larvas, espécimes mortos ou imagens submarinas de outros ambientes de profundidade, longe desta região.
Entretanto Bruce Robison, do Instituto de Investigação do Aquário da Baía de Monterey, na Califórnia, registou este peixe a 600 m durante uma exploração do Monterey Canyon através de um veículo de mergulho operado à distância, em 2014.
Uma gravação por acidente
Assim a nova e única observação foi feita acidentalmente pela ONG local Condrik-Tenerife quando regressavam a terra após uma expedição de estudo de tubarões. Assim a bióloga marinha Laia Valor reparou num objeto preto invulgar na superfície do mar, que não se assemelhava a plástico, e, ao aproximar-se, apercebeu-se de que se tratava de um peixe-diabo preto.
A equipa passou várias horas a observar o espécime. Já estava ferido e só sobreviveu durante algumas horas após a sua descoberta. Isto segundo a imprensa local.
O fotógrafo de vida selvagem marinha David Jara documentou o avistamento com imagens inéditas que mostravam o espécime “emergindo das profundezas abissais em natação vertical”.
“Um peixe lendário que poucas pessoas terão tido o privilégio de observar vivo”, comentou a ONG no Instagram. Assim “A razão da sua presença em águas tão pouco profundas é incerta. Pode dever-se a uma doença, a uma corrente ascendente, à fuga de um predador, etc.”, acrescentou.
Espécie com características muito distintas e um nome grego
Sabe-se que o peixe-diabo de mar negro se encontra em águas tropicais e temperadas dos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. Há também uma espécie conhecida no mar de Ross, na Antárctida.
Os seus dentes afiados e irregulares são uma das principais caraterísticas do seu aspeto intimidante, mas são completamente inofensivos para os seres humanos.
Foi-lhe dado o nome de Melanocetus a partir das palavras gregas melanos, que significa “preto”, e cetus, que significa “grande criatura marinha”. Como explica a escolha do nome, o peixe-diabo do mar negro é preto como breu – incluindo no interior da boca.
Nas águas escuras e profundas que são o seu habitat natural, e onde a luz do sol nunca chega, a icónica antena bioluminescente do peixe-diabo de mar negro funciona como um isco e uma “cana de pesca” que atrai as suas presas, como peixes mais pequenos e crustáceos.
No entanto, os seus estômagos altamente distensíveis também lhes permitem engolir presas maiores do que eles.
Entretanto a bioluminescência só está presente nos exemplares fêmeas e produz-se por bactérias simbióticas que são diferentes em cada espécie.