Um novo método de deteção precoce da doença de Alzheimer poderá passar pela escuta do movimento dos olhos do doente através de microfones colocados nos seus ouvidos. Tudo se deve a um tipo de movimento ocular muito específico. De facto, um dos primeiros sinais da doença de Alzheimer é uma lentidão subtil e a imprecisão de pequenos ajustes do globo ocular.
O tipo de equipamento normalmente necessário para seguir os movimentos sacádicos pode tornar a análise complicada. No entanto, microfones estrategicamente colocados, concebidos para ouvir as funções normais do corpo, podem ser capazes de medir os movimentos.
Uma equipa de investigadores liderada pela engenheira eletrotécnica Rachel Bouserhal, da École de Technologie Supérieure, no Canadá, e pelo neurocientista Chris Niemczak, do Dartmouth College, nos EUA, pretende testar a técnica em 35 doentes de Alzheimer para avaliar a sua eficácia.
Uma pequena peculiaridade no movimento dos olhos pode prever o risco desta doença
“Os movimentos dos olhos são fascinantes porque são dos movimentos mais rápidos e precisos do corpo humano. Assim dependem de excelentes capacidades motoras e do funcionamento cognitivo”, afirma o engenheiro eletrotécnico Arian Shamei, da École de Technologie Supérieure.
Para construir uma imagem visual significativa de uma imagem ou de uma cena, os nossos olhos fazem uma série de movimentos rápidos e coordenados, fixando a sua atenção num ponto após outro durante dezenas de milissegundos de cada vez. Talvez os tenha visto se alguma vez observou atentamente alguém a ler. Ou então se viu o movimento rápido dos seus olhos durante o sono REM.
Trata-se dos movimentos sacádicos e, para um doente com Alzheimer, os pequenos movimentos tornam-se mais lentos e menos precisos à medida que o controlo motor se degrada. No início, é muito subtil, apenas alguns milissegundos, mas as alterações tornam-se mais pronunciadas à medida que a doença progride.
Os cientistas acreditam que a latência sacádica tem potencial para ser uma ferramenta de diagnóstico precoce da doença de Alzheimer, que é barata, não invasiva, indolor e acessível a pessoas com diferentes níveis de literacia. Mas o equipamento de rastreio ocular nem sempre é portátil ou acessível. Como tal os investigadores pensaram que outra opção poderia funcionar: um tipo de tecnologia chamada “hearable”.
“Trata-se de um auricular com microfones que capta sinais fisiológicos do corpo”, explica a engenheira eletrotécnica Miriam Boutros, da École de Technologie Supérieure.
“O nosso objetivo é desenvolver algoritmos de monitorização da saúde para aparelhos auditivos, capazes de monitorizar continuamente e a longo prazo e de detetar doenças precocemente.”
Os movimentos dos olhos
Os movimentos dos seus olhos, incluindo os sacádicos, produzem pequenas vibrações nos seus tímpanos. A maioria das pessoas não consegue ouvi-las. Isto porque o corpo e o cérebro são capazes de as filtrar. De facto, os doentes com uma doença rara chamada síndrome de deiscência do canal superior conseguem ouvir o movimento dos seus próprios globos oculares.
Mas um microfone sensível pode detetar estas vibrações. Para determinar se podem fornecer informações suficientes para servir de instrumento de diagnóstico, os investigadores vão equipar 35 pacientes diagnosticados com a doença de Alzheimer ou com um défice cognitivo ligeiro e 35 controlos saudáveis com dispositivos de rastreio ocular e aparelhos auditivos.
Espera-se que as suas descobertas sirvam de base para o desenvolvimento de uma ferramenta vestível. Ela poderá permitir não só diagnosticar mais cedo a doença de Alzheimer, mas também acompanhar a evolução da doença. E, uma vez que a doença de Alzheimer não é a única condição que pode manifestar a latência sacádica, o princípio também pode ser aplicado noutros locais.
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