Descobrir se uma criança é autista não é uma tarefa fácil. Aliás é por esse motivo que alguns diagnósticos acabam por ser incorretos. No entanto tudo isto vai mudar. É que os médicos vão poder diagnosticar crianças autistas utilizando um novo jogo de vídeo de acompanhamento de movimentos. Na prática consegue distinguir crianças autistas dos seus pares não autistas com uma taxa de sucesso de 80%. Mas mais do que isso. o jogo também foi capaz de distinguir crianças com autismo daquelas com PHDA. Dois diagnósticos que muitas vezes são confundidos. Isto com 70% de precisão.
Como descobrir se uma criança é autista
A ferramenta tem o nome de Avaliação Computorizada da Imitação Motora, ou CAMI. No jogo, pede-se a uma criança que acompanhe os movimentos de dança e de todo o corpo de uma personagem no ecrã durante um minuto. Entretanto, duas câmaras, uma à frente e outra atrás, registam os movimentos da criança. Depois o sistema CAMI avalia a pontuação de imitação da criança.
A pontuação varia entre zero, que corresponde a nenhuma imitação, e 1, que corresponde a uma imitação “perfeita”. Isto com base na capacidade de um investigador bem treinado para imitar o avatar.
Embora os conceitos tradicionais de autismo se centrem frequentemente nas dificuldades de comunicação, a investigação demonstrou que as dificuldades sensório-motoras desempenham um papel importante na doença, podendo mesmo estar subjacentes a algumas das dificuldades de comunicação.
As crianças autistas têm frequentemente dificuldade em imitar os movimentos e as expressões que, através da linguagem corporal, constituem uma componente fundamental da comunicação humana.
Como se realizou o estudo
O estudo testou o instrumento em 183 crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 13 anos. Deste grupo, 21 crianças tinham um diagnóstico único de perturbação do espetro do autismo (PEA). 35 tinham um diagnóstico único de PHDA (perturbação de défice de atenção e hiperatividade). 63 tinham PEA e PHDA concomitantes e 65 eram neurotípicas, o que significa que não tinham nenhum dos dois diagnósticos.
As crianças foram avaliadas quanto a sintomas de autismo e de PHDA utilizando ferramentas de diagnóstico tradicionais, juntamente com uma pontuação CAMI baseada no seu desempenho no jogo de vídeo.
Entre as crianças autistas, verificou-se uma forte associação entre as baixas pontuações CAMI e o aumento dos sintomas de autismo, especialmente as medidas de afeto social, bem como os comportamentos restritos e repetitivos.
No entanto, as suas baixas pontuações CAMI não foram associadas a traços de PHDA ou à capacidade motora. Por outro lado, para as crianças neurotípicas, as pontuações CAMI estavam intimamente relacionadas com a desatenção e a capacidade motora.
Entretanto o grupo com PHDA recebeu pontuações CAMI mais elevadas do que as crianças com TEA e TDAH, mas as suas pontuações não foram significativamente diferentes das do grupo apenas com TEA. Isto sugere que o sistema pode necessitar de algumas melhorias antes de poder ser utilizado para o diagnóstico.