Como deve estar por dentro, ao longo dos últimos dias, muito se tem falado sobre o aumento dos preços do iPhone já no próximo lançamento devido às tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses.
Isto porque, em teoria, a Apple está encurralada entre a espada e a parede, ou seja, entre a guerra comercial e a necessidade de manter os preços acessíveis. Mas… Será a culpa apenas e só de Donald Trump, mais concretamente da sua loucura com as tarifas?
A história é sempre mais complexa, e de facto mais interessante.
A culpa do preço do iPhone não é “só” das tarifas!
Antes de mais nada, vamos pôr as coisas em perspetiva: sim, as tarifas não ajudam. São medidas agressivas, regressivas e, muitas vezes, ineficazes. Aliás, basta olhar para o que tem vindo a acontecer ao mercado nestes últimos dias. Porém, o problema da Apple não está apenas e só nas tarifas. Está na aposta cega que a gigante Norte-Americana fez na China ao longo das últimas duas décadas.
A Apple está a colher o que plantou!
Tim Cook não só deslocalizou a produção da Apple para a China, como otimizou tudo até ao limite. Sim, é verdade que existem linhas de produção fora da China. Porém, a realidade é que a máquina global de produção da gigante da maçã depende quase exclusivamente do país asiático — para montagem, componentes, logística, tudo. Resultado? Mais de 90% dos iPhones continuam a ser montados na China. O mesmo acontece com 80% dos iPads e mais de metade dos Macs. Isto sem falar dos AirPods ou Apple Watch.
A Apple não depende da China. A Apple é a China, no que toca à sua cadeia de produção.
O mundo mudou. Mas a Apple não quis mudar o seu negócio lucrativo.
Desde sanções, ao Covid, até à atual guerra comercial, as relações entre os EUA e a China deterioraram-se de forma acelerada. E a Apple? Mexeu-se… mas pouco. Produção em pequena escala na Índia, umas linhas de montagem no Vietname, e pouco mais. Nada que quebre verdadeiramente o cordão umbilical com Pequim.
E agora, que o chão começa a tremer, o castelo de cartas abana. Resultado? A Apple vai passar mal! Isto a não ser que Donald Trump tire o pé do acelerador. Algo que não pareço provável.
A Apple podia ter apostado na diversificação da produção há muito tempo. Agora, com as tarifas a bater à porta, o discurso é sempre o mesmo: “Produzir fora da China é impossível”, “Seria demasiado caro”, “Ia tornar os iPhones incomportáveis”.
Muitas desculpas num problema que parece um exclusivo Apple.
Portugal não está imune!
Com tudo isto, é quase certo que os aumentos de preços vão chegar também a Portugal. Mesmo que as tarifas sejam uma política americana, os impactos são globais. A Apple não vai perder margem nos EUA e deixar tudo igual na Europa. Vai ajustar tudo, em todo o lado.
Por isso, quando o próximo iPhone custar mais 100 ou 150 euros, talvez não culpes só a política americana. Culpa também a Apple.