Um novo estudo mostrou que as células cancerígenas conseguem cooperar entre si para conseguirem nutrientes do ambiente em que vivem. É uma descoberta surpreendente que pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos contra o cancro.
Células cancerígenas trabalham em conjunto para sobreviverem
“Descobrimos que as células de tumores ajudam-se umas às outras para conseguirem crescer,” explicou Carlos Carmona-Fontaine, investigador da Universidade de Nova Iorque e autor principal do estudo publicado na revista científica Nature. “Perceber como estas células funcionam pode dar-nos ideias para novas terapias.”
Até agora, os cientistas sabiam que as células cancerígenas competem entre si por recursos, como nutrientes. Com o tempo, os tumores tornam-se mais agressivos porque as células mais fortes acabam por dominar.
Mas na natureza também existem muitos exemplos de cooperação, principalmente quando as condições são difíceis. Por exemplo, os pinguins juntam-se em grupo para se aquecer durante o inverno. E até microrganismos, como as leveduras, conseguem “trabalhar em equipa” para encontrar alimento quando estão prestes a morrer à fome.
Como as células cancerígenas vivem em ambientes pobres em nutrientes, os investigadores perguntaram-se: será que também colaboram para conseguir sobreviver?
Quando há poucos nutrientes, as células juntam-se
Para responder a essa pergunta, os cientistas observaram o crescimento de diferentes tipos de células tumorais em várias condições. Utilizaram tecnologia avançada — como microscópios automáticos e programas de computador — para analisar milhões de células ao longo do tempo.
Descobriram que, quando faltavam aminoácidos (nutrientes importantes para as células), as células cancerígenas só conseguiam sobreviver se estivessem próximas umas das outras. Ou seja, precisavam de estar em grupo para se ajudarem.
“Foi surpreendente ver que, em situações de falta de nutrientes, as células em grandes grupos conseguiam sobreviver melhor do que as que estavam sozinhas,” disse Carmona-Fontaine.
As células partilham nutrientes entre si
Os investigadores descobriram que as células tumorais não se limitam a procurar alimento individualmente. Em vez disso, libertam uma enzima que “quebra” pedaços de proteínas (chamados oligopéptidos) presentes no ambiente, transformando-os em aminoácidos que ficam disponíveis para todas as células à volta.
É como se uma célula cozinhasse uma refeição e depois a deixasse na mesa para todas as outras aproveitarem.
Impedir este processo pode travar o cancro
A enzima responsável por este processo chama-se CNDP2. Quando os cientistas usaram um medicamento chamado bestatina, que impede esta enzima de funcionar, as células deixaram de conseguir alimentar-se e acabaram por morrer.
Também usaram uma técnica genética para “desligar” o gene que produz esta enzima nas células tumorais e verificaram que os tumores cresceram muito menos em ratinhos. Especialmente quando, ao mesmo tempo, os animais seguiam uma dieta pobre em aminoácidos.
“Quando retiramos a capacidade das células para cooperar, o crescimento do tumor abranda ou até pára por completo,” explicou Carmona-Fontaine. “A competição continua a ser importante, mas esta descoberta mostra que a cooperação entre células também é fundamental.”
Os investigadores acreditam que esta descoberta pode ajudar a desenvolver tratamentos que dificultem a “ajuda mútua” entre células cancerígenas.