Se conseguirmos atingir o objetivo climático estabelecido pelo Acordo de Paris, poderemos viver num mundo que é, em média, 2 graus Celsius mais quente do que os níveis pré-industriais até ao final deste século. Mas mesmo assim haverá muito menos lugares para viver confortavelmente neste planeta a que chamamos casa. De facto, em breve todos podemos estar em risco devido ao calor extremo.
A temperatura média global já aumentou 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais. Atingimos este marco sombrio no ano passado.
O calor extremo será cada vez mais uma realidade!
Atualmente, os cientistas afirmam que se acrescentarmos 0,5 °C de calor adicional à média global, triplicaremos a área de terra do nosso planeta em que é demasiado quente para ser habitada por um ser humano adulto saudável. Isto equivale a eliminar uma massa de terra do tamanho dos Estados Unidos.
Para as pessoas com mais de 60 anos, cujos corpos são ainda mais vulneráveis ao calor extremo, essa zona de perigo abrangerá cerca de 35% da massa terrestre. Uma inclinação acentuada em relação aos 21% que lhes estão vedados atualmente.
É algo para que nos devemos preparar, especialmente porque estas projecções se situam no extremo mais suave dos cenários de aquecimento global.
Mesmo quando estamos mais saudáveis, o nosso corpo não consegue aguentar muito, mas o significado de “aguentar” é bastante lato. Estar suficientemente quente para suar e ficar com sono pode não o matar, mas também não está propriamente a prosperar nessas circunstâncias.
Para além disso, existe o calor “incompensável”. Ou seja, em que há mais calor a entrar no seu corpo do que os seus mecanismos para estabilizar a temperatura interna conseguem suportar. É um problema enfrentado por pessoas em condições bastante extremas, muitas vezes agravado pelo equipamento de proteção individual (EPI): bombeiros e atletas, por exemplo. Mas também está a tornar-se mais comum em ondas de calor, especialmente perto do equador.
Dependendo do local onde vive ou daqueles que já visitou, pode já ter uma noção disto.
Nos últimos anos, regiões como o Golfo Pérsico/Arábico, a Planície Indo-Gangética e até mesmo pontos quentes isolados no sul dos EUA, no México e na Austrália, registaram fenómenos de calor extremo. Na prática ultrapassam os limites incompensáveis dos jovens adultos.
Depois, há o calor insuperável, que é suficiente para o matar. Neste estudo, definiu-se como a temperatura central do corpo – normalmente uns agradáveis 37 °C – que atinge os 42 °C em seis horas ou menos. Com um aquecimento de 2 °C acima dos níveis pré-industriais, os limiares de insustentabilidade só serão ultrapassados em certas zonas para os adultos com mais de 60 anos.
Mas se continuarmos a emitir combustíveis fósseis e a destruir os ecossistemas que absorvem o carbono atmosférico, acelerando o aquecimento global, não conseguiremos aplanar a curva o suficiente para atingir o objetivo de 2 °C. O relatório conclui que, com 4 a 5 graus acima dos níveis pré-industriais, o calor atinge níveis que põem em risco a vida das pessoas de qualquer idade em algumas regiões.
De facto, é preciso começar a levar-se isto a sério. Afinal de contas só temos um planeta onde viver. Pelo menos para já.