Determinadas estirpes de bactérias desenvolveram um mecanismo que permite beneficiar células vizinhas após a sua morte. Assim deixam como legado uma fonte rica de nutrientes que outras bactérias podem utilizar para sobreviver e prosperar.
As bactérias conseguem beneficiar outras células depois da morte
Investigadores da Universidade de Durham, no Reino Unido, observaram este fenómeno em colónias da bactéria Escherichia coli. Isto embora os cientistas acreditem que o mesmo processo possa ocorrer noutras espécies e até noutros tipos de organismos.
Recorrendo a técnicas de imagem avançadas, análises estatísticas e medições do crescimento bacteriano, a equipa identificou a enzima Lon protease. É a responsável por decompor proteínas em moléculas mais simples, tornando-os disponíveis para outras células.
Já era conhecido o papel da Lon protease na regulação e degradação de proteínas dentro das bactérias. No entanto esta é a primeira vez que se regista a sua atividade mesmo após a morte celular. Este facto revela que a enzima não beneficia apenas o organismo que a produz, mas também os microrganismos circundantes.
Para testar a importância da Lon protease, os cientistas criaram variantes de E. coli sem o gene responsável pela produção desta enzima. Verificaram que nestes casos, o processo não ocorria. No entanto, estas bactérias ainda conseguiam beneficiar dos nutrientes libertados por outras que possuíam a enzima.
Este fenómeno reflete uma adaptação social cooperativa, onde as bactérias evoluíram não apenas para garantir a sua própria sobrevivência, mas também para favorecer os seus clones mesmo após a morte, através de processos naturais de reciclagem.
Isto também acontece com outros organismos
A ideia pode ter implicações mais amplas: estudos sobre algas verdes e decomposição de matéria vegetal sugerem que outros organismos podem apresentar estratégias semelhantes, morrendo de forma a beneficiar o ecossistema envolvente e, consequentemente, a sua própria linhagem.
Embora as bactérias não possam deixar heranças materiais como dinheiro ou propriedades para os seus descendentes, parecem ter um mecanismo programado que lhes permite continuar a contribuir para a comunidade microbiana mesmo após a sua morte.
Esta área de investigação ainda está numa fase inicial, mas no futuro poderá ser possível controlar alguns destes processos pós-morte, seja para limitar o crescimento de bactérias patogénicas ou para potenciar aplicações biotecnológicas benéficas.