Quando um motor falha durante o voo, isso não representa, por si só, uma situação catastrófica. Os aviões são concebidos para conseguir planar em segurança, mesmo sem motor, e não caem abruptamente do céu. De facto, por norma, a legislação exige que uma aeronave comercial consiga completar o trajeto até ao destino com apenas um motor a funcionar. O segundo motor serve como redundância e, mesmo que haja uma perda, o avião continua capaz de voar — embora com desempenho reduzido.
Quanto tempo os aviões conseguem planar sem motor?
Pode parecer estranho, mas é bastante comum os jatos descerem em ‘flight idle’, ou seja, com os motores em regime mínimo, praticamente sem propulsão. Os motores continuam ligados e a alimentar os sistemas principais, mas sem gerar força de impulso. Na verdade, já planou várias vezes sem se aperceber. Isso acontece em quase todos os voos.”
E se ambos os motores deixarem de funcionar?
Mesmo que os dois motores parem completamente, o avião não cai de imediato. Graças ao design aerodinâmico, continua no ar durante algum tempo. As asas criam sustentação ao manipular o fluxo de ar. Assim o formato faz com que o ar se mova mais rapidamente por cima da asa, o que reduz a pressão na parte superior e cria uma força de elevação.
Num cenário de perda total de propulsão, os pilotos descem o avião de forma controlada para aumentar a velocidade do ar e evitar uma paragem aerodinâmica (stall). O objetivo é ajustar a altitude para manter uma velocidade segura que permita continuar a planar até uma eventual aterragem.
Felizmente, estas falhas duplas de motor são extremamente raras. A aviação continua a ser uma das formas de transporte mais seguras que existem.
É mesmo possível voar sem motores?
Sim, é possível. Um exemplo famoso ocorreu com o voo 009 da British Airways. Enquanto sobrevoava o Monte Galunggung, o avião atravessou uma nuvem de cinzas vulcânicas que levou à paragem dos quatro motores. O capitão Eric Moody comunicou aos passageiros: “Temos um pequeno problema — os quatro motores pararam. Estamos a fazer todos os possíveis para os reativar.”
A tripulação manteve a calma e calculou que, a uma altitude de 37 mil pés, o avião podia planar durante cerca de 23 minutos, percorrendo aproximadamente 91 milhas náuticas (cerca de 105 milhas terrestres).
Em 2001, o voo 236 da Air Transat, de Toronto para Lisboa, perdeu os motores a 33 mil pés e planou cerca de 75 milhas em 19 minutos, conseguindo aterrar em segurança graças à perícia dos pilotos.