Os dinossauros são frequentemente representados como criaturas ferozes, a mostrarem os dentes e com linguas que esticam descontroladamente como se tratassem de gigantescos lagartos enlouquecidos. No entanto, um novo estudo revela que existe um grande problema nessa imagem clássica: os dinossauros não conseguiam estender as suas línguas como lagartos. Em vez disso, elas estavam presas no fundo das suas bocas de forma semelhante ao que acontece com os jacarés.
Esta descoberta é da responsabilidade de investigadores da Universidade do Texas em Austin e da Academia Chinesa de Ciências que compararam os ossos hióides – os ossos que sustentam a língua – de pássaros e crocodilos modernos com os que estavam presentes nos dinossauros extintos. Para além de uma nova abordagem a esta questão, este estudo ainda aborda a origem do voo e um aumento na diversidade e mobilidade da língua.
Ossos hioides fósseis
Os fósseis descobertos no nordeste da China, juntamente com os delicados ossos hióides, estavam ainda preservados. As setas azuis e verdes apontam para o osso hióide. Este estudo foi publicado a 20 de junho na revista PLOS ONE.
“As línguas são frequentemente negligenciadas. No entanto, disponibilizam informações importantes acerca dos estilos de vida dos animais extintos ”, afirma Zhiheng Li, professor associado do Laboratório de Evolução de Vertebrados e Origens Humanas da Academia Chinesa de Ciências.
Os investigadores chegaram à nova descoberta comparando os ossos hióides de dinossauros extintos, pterossauros e jacarés com os ossos e músculos hióides de aves modernas e espécimes de jacaré.
Os ossos hióideos atuam como âncoras para a língua na maioria dos animais, mas nas aves esses ossos podem-se estender até à ponta. Uma vez que os dinossauros extintos pertencem à família de crocodilos, pterossauros e pássaros modernos, a comparação da anatomia entre estes grupos pode ajudar os cientistas a entenderem as semelhanças e diferenças na anatomia da língua e como as características evoluíram ao longo do tempo e em diferentes linhagens.
O processo de comparação envolveu a captura de imagens de alta resolução de músculos e ossos hioides de 15 espécimes modernas, incluindo três jacarés e 13 espécies de aves tão diversas como avestruzes e patos, na Unidade de Tomografia Computadorizada de Raios-X de Alta Resolução da Escola Jackson (UTCT). Os espécimes fósseis, a maioria do nordeste da China, foram examinados cuidadosamente para se preservar os delicados ossos da língua e incluíam pequenos dinossauros semelhantes a pássaros, bem como pterossauros e um Tyrannosaurus rex.
Os resultados indicam que os ossos hióides da maioria dos dinossauros eram como os dos jacarés e crocodilos – curtos, simples e estavam ligados a uma língua que não era muito móvel. A co-autora e professora, Julia Clarke, afirmou que estas descobertas significam que as reconstruções dramáticas que mostram dinossauros com línguas compridas estão completamente erradas.
Em oposição aos ossos hióides curtos dos crocodilos, os investigadores descobriram que os pterossauros, dinossauros muito semelhantes a pássaros, têm uma grande diversidade nas formas do osso hióide. Deste modo, os investigadores consideram que a variedade de formas pode estar relacionada à capacidade de voo e à presença de patas e “mãos”.
“Se não for possível utilizar uma mão para manipular a presa, a língua torna-se muito mais importante para manipular alimentos”, afirma Zhiheng Li. “Esta é uma das hipóteses que apresentamos.”
No entanto os cientistas observaram uma exceção que liga a diversidade da língua ao vôo. Os dinossauros ornitísquios – um grupo que inclui tricerátopos, anklyosaurus e outros dinossauros herbívoros que mastigavam a sua comida – tinham ossos hióides altamente complexos e mais móveis, embora fossem estruturalmente diferentes dos que estavam presentes nos dinossauros voadores e pterossauros.
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