Um estudo com mais de 1700 participantes de cinco hospitais na Catalunha, Suécia e Itália confirmou a eficácia de um biomarcador sanguíneo para detetar a doença de Alzheimer na prática clínica. A deteção do Alzheimer através de uma simples análise ao sangue é agora uma realidade científica.
Deteção do Alzheimer já é possível através de análise ao sangue
A investigação, liderada por especialistas do Hospital del Mar Research Institute e do Barcelonaβeta Brain Research Center (BBRC) — pertencente à Fundação Pasqual Maragall — demonstrou que o biomarcador fosfo-tau217 é capaz de indicar com elevada precisão o risco de Alzheimer em pessoas com sintomas de défice cognitivo.
O estudo, publicado na revista Nature Medicine, contou com a colaboração da Universidade de Gotemburgo e da Universidade de Lund (Suécia), bem como da Universidade e Hospital de Brescia (Itália).
Diagnóstico precoce com elevada precisão
Assim analisaram dados de 1767 indivíduos, distribuídos por cinco grupos. Quatro hospitalares (Hospital del Mar, Hospital de Gotemburgo, Hospital de Malmö e Hospital de Brescia) e um grupo de cuidados primários na Suécia.
Com base em investigações anteriores, a equipa validou a eficácia do fosfo-tau217 como biomarcador sanguíneo para identificar o risco de Alzheimer. Isto mesmo nas fases iniciais da doença. Nesta nova fase, validaram também um sistema de teste automatizado e escalável — o Lumipulse p-tau217, desenvolvido pela empresa japonesa Fujirebio — capaz de determinar limiares de referência que permitem confirmar a presença ou ausência de risco da doença.
O teste possibilita identificar, com grande precisão, que indivíduos necessitam de exames adicionais, como punção lombar ou PET scan. Foram definidos dois pontos de corte que ajudam a classificar o risco: valores entre esses limites indicam a necessidade de avaliação complementar.
Apesar da elevada precisão, os resultados dos biomarcadores devem-se interpretar por profissionais especializados, no contexto de uma avaliação neurológica completa.
Precisão superior a 90%
Nos doentes hospitalares, a análise automatizada do biomarcador atingiu uma precisão superior a 90%, comparável à obtida através de punção lombar. Esta avaliação teve em conta fatores como comorbilidades (por exemplo, diabetes e função renal) e idade. A eficácia revelou-se inferior em contextos de cuidados primários e em pessoas com mais de 80 anos.
Pela sua simplicidade e facilidade de aplicação em qualquer laboratório clínico, esta nova ferramenta pode-se integrar na prática clínica, permitindo diagnósticos mais acessíveis e rigorosos. A medição dos níveis de fosfo-tau217 no sangue poderá contribuir para um diagnóstico precoce mais equitativo, com potencial para melhorar o acesso a tratamentos adequados.
O estudo indica ainda que esta abordagem poderá reduzir os custos do diagnóstico do Alzheimer entre 60% e 81%. Isto em comparação com os métodos tradicionais atualmente utilizados. Esta poupança, aliada à sua escalabilidade, reforça o potencial impacto da nova ferramenta no acesso ao diagnóstico precoce e na gestão clínica da doença. No entanto, os autores sublinham que serão necessários estudos adicionais antes da sua implementação alargada.