Se tens carro elétrico, ou estás a pensar comprar um, já ouviste de certeza aquela frase: “Compensa porque é muito mais barato carregar do que atestar com gasolina ou gasóleo!” Mas, como em tudo na vida, a realidade é sempre mais complexa.
Ou seja, além do facto de existirem vários desafios no lado elétrico da coisa, a realidade é que carregar um carro elétrico não é sempre mais barato. Aliás, há muitos casos em que é mais caro.
Carros elétricos em Portugal: É mesmo mais barato do que gasolina ou gasóleo?
Qual é a dúvida? Basta olhar para a nossa realidade! O preço da eletricidade tem vindo a subir nos últimos anos, algo que afeta os carregamentos em casa, além disso, os postos públicos estão cada vez mais caros e escassos. Aliás, podemos até dizer que a rede nacional de carregamento para VE parece estar constantemente à rasca para acompanhar o crescimento dos elétricos.
Isto tanto no número de novos carregadores, como também no lado da manutenção daqueles que já existem.
É muito comum encontrar postos que não funcionam, que carregam a velocidades mais baixas do que aquelas que deveriam (mas paga a velocidade máxima), têm ninhos de vespas por remover, etc… Isto já para não falar em postos indevidamente ocupados, ou filas em carregadores rápidos,
Carregar o carro elétrico: parece fácil, mas não é!
Comecemos pelo início: carregar um carro elétrico na rua é tudo menos simples.
Tens de ter apps, cartões, contas com comercializadores de eletricidade (CEME), e mesmo assim nem sempre funciona como devia. Depois, tens ainda quatro componentes que fazem subir o preço final: o custo da eletricidade, a taxa de uso do posto, os impostos e, em alguns casos, taxas extra por ocupação.
Vários especialistas já vieram dizer que este modelo Português é uma confusão completa, e que por isso mesmo é urgente simplificar. E têm razão.
Então quanto custa andar 100 km com um carro elétrico?
A Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) fez as contas:
- 2,11€ se carregares em casa com tarifa bi-horária
- 3,19€ com tarifa simples (a qualquer hora do dia)
- 7,88€ se usares só e apenas carregadores da rede pública
Em contas mais alargadas, se carregares 75% do tempo em casa e 25% fora, a média fica nos 3,55€ por 100 km.
Então… e os mesmos 100 kms a gasolina ou gasóleo?
- 9,83€ a gasolina
- 7,60€ a gasóleo
Ou seja, sim, o elétrico compensa… mas só se o conseguires carregares em casa (ou no trabalho). Se dependeres da rua, especialmente de postos ultrarrápidos, prepara-te para pagar mais… Mutio mais.
Infelizmente, em alguns casos já é mais caro carregar do que abastecer a gasóleo!
Os incentivos já não chegam para disfarçar os preços
Carros elétricos têm isenção de IUC e ISV, acesso a zonas verdes, estacionamento gratuito… tudo isso continua a existir. Mas com o fim dos apoios ao carregamento e o aumento da carga fiscal (como as tarifas de acesso à rede que passaram a ser positivas), os custos subiram a pique.
Além disso, os postos mais baratos estão quase sempre ocupados. Ou seja, para muitos utilizadores, andar 100 km num elétrico custa muito perto do mesmo que num carro a gasóleo.
Tudo isto sem contar com o preço mais alto que normalmente se paga pelo carro em si.
Vives num prédio? Não tens garagem? Ou jardim para arrumar o carro? Esquece a poupança!
O grande drama está aqui: se moras num apartamento sem garagem ou sem ponto de carregamento no prédio, vais depender da rede pública. Isso significa gastar mais dinheiro, perder tempo à procura de postos disponíveis, deixar o carro longe de casa, o que por sua vez pode até alterar a tua rotina só para carregar o carro.
Ou seja, para quem tem casa com garagem, eventualmente até com painéis solares, os carros elétricos continuam a compensar. Para o resto do país? Está cada vez mais complicado.
Esqueça meter o carro em cima do passeio, passar o cabo pelo passeio ou lançar carregadores da varanda. Isso é tudo ilegal, e como tal, pode ser multado. Eu já fui.
Conclusão
A mobilidade elétrica continua a ter vantagens. Mas a ideia de que “carro elétrico é sempre mais barato” já não é verdade para todos. Não é a solução para todos. Pelo menos não por enquanto.
Aliás, é exatamente por isso que muitas fabricantes voltaram a apostar em outras soluções. Como é o caso da Toyota e Renault que andam a piscar os olhos ao GPL, combustíveis sintéticos e até ao hidrogénio.
Feliz ou infelizmente, a eletrificação não é a galinha dos ovos de ouro, porque continua a ter imensas limitações.