Novo estudo: fumar e vaping altera as células dos pulmões!

O consumo de cigarros é generalizado e mortal, mas os mecanismos exactos pelos quais o fumo do cigarro provoca doenças respiratórias graves continuam por esclarecer. Esta lacuna na compreensão tem dificultado significativamente o desenvolvimento de tratamentos eficazes. Investigadores australianos descobriram que vários produtos químicos presentes no fumo do cigarro e nos cigarros electrónicos (vaping) perturbam o funcionamento de uma célula imunitária crucial nos pulmões.

Publicado no Journal of Experimental Medicine, o estudo indica que estas perturbações aumentam a vulnerabilidade às infecções respiratórias. Também exacerbam as doenças inflamatórias relacionadas com o tabagismo. Nisto inclui-se a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), em fumadores e indivíduos expostos ao fumo passivo e passivo.

O impacto do fumo do cigarro no sistema imunitário

Sabe-se que o fumo de cigarros e do vaping prejudica a resposta do sistema imunitário às infecções. Também promove a inflamação nos pulmões, que pode conduzir ou exacerbar a DPOC. É a terceira principal causa de morte a nível mundial. Os doentes com DPOC são mais susceptíveis a infecções por gripe. Por sua vez, podem agravar a doença subjacente, aumentando a inflamação das vias respiratórias e promovendo a destruição dos sacos de ar dos pulmões. Atualmente, não existem tratamentos eficazes para a DPOC.

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De acordo com o Dr. Wael Awad, do Biomedicine Discovery Institute da Universidade de Monash, primeiro autor do novo estudo do JEM, “até agora, os mecanismos subjacentes às respostas imunitárias distorcidas nas pessoas expostas ao fumo do cigarro e a forma como estão relacionadas com as doenças associadas ao fumo, como a DPOC, continuam por esclarecer”.

O Professor Jamie Rossjohn do Biomedicine Discovery Institute da Universidade de Monash co-liderou o estudo com o Professor David P. Fairlie do Institute for Molecular Bioscience da Universidade de Queensland, a Professora Alexandra J. Corbett da Universidade de Melbourne, baseada no Peter Doherty Institute for Infection and Immunity, e o Professor Philip M. Hansbro do Centenary Institute e da University of Technology Sydney.

No seu estudo, os investigadores analisaram os efeitos do fumo do cigarro nas células T invariantes associadas às mucosas (MAIT). É um tipo de célula imunitária que se encontra nos pulmões e noutros tecidos do corpo. As células MAIT ajudam a combater as infecções bacterianas e virais e podem promover a inflamação ou a reparação dos tecidos.

Como o fumo do cigarro e do vaping perturba a função das células MAIT

As células MAIT são activadas por uma proteína chamada MR1 que se encontra em quase todas as células do corpo. A MR1 reconhece os químicos produzidos pelas bactérias e apresenta-os à superfície das células infectadas para ativar as células MAIT e iniciar uma resposta imunitária.

“Embora saibamos que o fumo dos cigarros, dos incêndios florestais, dos cozinhados, dos gases de escape dos veículos e dos resíduos queimados representa um risco significativo para a saúde, ainda sabemos, surpreendentemente, relativamente pouco sobre a forma como os componentes específicos do fumo afectam o nosso sistema imunitário e como têm impacto em várias partes do corpo humano”, afirmou o Professor Fairlie.

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“Suspeitávamos que alguns dos mais de 20 000 produtos químicos presentes no fumo do cigarro que os fumadores inalam pudessem também ligar-se ao MR1 e influenciar a atividade das células MAIT nos pulmões”, afirmou o Dr. Awad.

Uma descoberta muito revelante

Os investigadores utilizaram modelos informáticos para prever quais os componentes do fumo do cigarro que poderiam ser reconhecidos pela MR1. Assim descobriram que várias destas moléculas não só se ligavam à proteína como também aumentavam ou diminuíam em quantidade na superfície das células. Entretanto estes produtos químicos, incluindo os derivados do benzaldeído que também se utilizam como aromatizantes nos cigarros, os cigarros electrónicos, bloquearam a ativação das células MAIT humanas por compostos produzidos por bactérias.

Entretanto a equipa de investigação estudou então os efeitos do fumo do cigarro e vaping nas células MAIT do sangue humano e de ratinhos e mostrou que reduziam a função das células MAIT. Assim os ratos expostos repetidamente ao fumo do cigarro desenvolveram sintomas de doença pulmonar, que se agravavam se fossem também infectados pela gripe. Os investigadores descobriram que a exposição prolongada ao fumo do cigarro alterou a proteção proporcionada aos ratinhos pelas suas células MAIT, tornando-os menos capazes de combater as infecções por gripe e mais propensos ao desenvolvimento da doença DPOC.

“Descobrimos que os ratinhos sem células MAIT também estavam protegidos da DPOC induzida pelo fumo do cigarro, apresentando níveis reduzidos de inflamação pulmonar e sem deterioração dos tecidos nos sacos aéreos dos pulmões”, afirmou o Professor Hansbro.

“Globalmente, o nosso estudo revela que os componentes do fumo do cigarro podem ligar-se à proteína MR1 e reduzir as funções das células imunitárias protectoras chamadas células MAIT. Isto aumenta a suscetibilidade às infecções e agrava a progressão da doença pulmonar”, afirmou o Dr. Awad. Os investigadores tencionam agora investigar exatamente quais as vias das células MAIT que se afetam pelo fumo do cigarro e vaping. Tudo para saberem como tratar melhor a DPOC e outras doenças pulmonares.

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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