Nos últimos anos, vários trabalhos de investigação têm procurado esclarecer o impacto negativo dos dispositivos de fácil acesso. Nomeadamente smartphones e tablets, especialmente no bem-estar físico e mental das crianças. Um novo estudo centrado em crianças com um ano de idade concluiu que o excesso de tempo de ecrã está associado a um atraso no desenvolvimento de competências cruciais como a comunicação. Também nas funções motoras e a capacidade de resolução de problemas.
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De acordo com o estudo, “um maior tempo de ecrã para crianças com 1 ano de idade foi associado a atrasos no desenvolvimento da comunicação e da resolução de problemas aos 2 e 4 anos de idade”. Para que fique claro, o estudo não conseguiu estabelecer uma ligação causal definitiva entre a exposição ao tempo de ecrã e os atrasos no desenvolvimento. No entanto os resultados dos testes encontraram um padrão que sugere que o tempo de ecrã pode, pelo menos, ser um dos fatores que contribuem muito para isso.
A investigação, publicada no The Journal of the American Medical Association Pediatrics, analisou o impacto da exposição das crianças ao tempo nos smartphones e tablets. Isto em crianças com apenas um ano de idade. Assim examinou a forma como esta afeta os cinco domínios-chave do desenvolvimento cognitivo. A equipa centrou-se na comunicação, na motricidade fina, na motricidade grossa, na resolução de problemas e nas competências sociais e pessoais como parte da análise. Depois utilizou questionários para avaliar os sinais de atrasos de desenvolvimento em 7097 crianças que fizeram parte do estudo.
A equipa descobriu que, nas crianças expostas a quatro ou mais horas de tempo de ecrã, os atrasos de desenvolvimento afetavam as suas capacidades de comunicação. Também de resolução de problemas entre os dois e os quatro anos de idade. Em termos gerais, a equipa deduziu que, aos 2 anos de idade, os atrasos afetavam a comunicação (5,1%). Depois a motricidade grossa (5,6%), a motricidade fina (4,5%), a resolução de problemas (4,2%). Por fim as competências sociais e pessoais (5,5%). Foram observados efeitos semelhantes aos quatro anos de idade. No entanto em menor escala.
Além disso, os efeitos parecem desaparecer em algumas áreas ao longo do tempo.
“O tempo de ecrã das crianças com 1 ano de idade foi associado aos domínios da motricidade fina e das competências pessoais e sociais aos 2 anos. No entanto, esta associação não foi confirmada aos 4 anos de idade”, refere o documento. O estudo conseguiu, no entanto, confirmar uma relação dose-resposta entre a exposição ao tempo de ecrã com um ano de idade e a forma como está associada a atrasos de desenvolvimento aos dois e quatro anos de idade.
A investigação publicada na revista Cognitive Development também refere que a utilização excessiva do ecrã prejudica o desenvolvimento da criança. Entretanto acrescenta que “os programas destinados a crianças pequenas devem adaptar-se às capacidades cognitivas da criança e encorajar a co-utilização pelos pais”. Um outro estudo, realizado por especialistas da Universidade de Calgary, no Canadá, concluiu que as crianças expostas a ecrãs nos primeiros dois anos de vida têm um pior desempenho nos testes de desenvolvimento quando atingem os três anos.
O que dizem os outros estudos?
Um artigo publicado no Journal of National Medical College refere que mesmo as aplicações e jogos educativos mais personalizados não são suficientes para oferecer o tipo de competências de aprendizagem que se transmitem por tutores humanos.
Embora existam poucas provas que sugiram que a exposição aos ecrãs provoca problemas oculares, tem-se verificado um aumento da miopia nos últimos anos, uma vez que cada vez mais crianças ficam coladas aos ecrãs dentro de casa em vez de irem para o exterior. “Depois de estudarem mais de 4000 crianças em escolas primárias e secundárias de Sidney durante três anos, descobriram que as crianças que passavam menos tempo ao ar livre corriam um maior risco de desenvolver miopia”, afirma um estudo publicado na Nature.
Depois, há o lado comportamental dos riscos do tempo das crianças nos smartphones e tablets. Uma investigação publicada no The Journal of the American Medical Association Pediatrics refere que, quando os pais utilizam dispositivos como telemóveis e tablets para acalmar os filhos (entre os 3 e os 5 anos), isso pode prejudicar o desenvolvimento das suas estratégias de regulação das emoções. Leva a “reações emocionais mais intensas”. Também a mais impulsividade e um comportamento menos organizado, o que torna mais difícil ser pai ou mãe sem as redes sociais”.
Como gerir o tempo de ecrã como pai ou mãe
A intervenção e a vigilância são duas áreas fundamentais a que os pais de crianças pequenas devem prestar especial atenção. Assim para as crianças com menos de dois anos de idade, a única forma de exposição ao tempo de ecrã que devem ter são as videochamadas. Os pais devem manter os seus telemóveis e computadores portáteis afastados. Isto quando interagem com as crianças e a certificarem-se de que estas participam em atividades do mundo real, de preferência ao ar livre.
Entretanto de uma forma geral os pediatras desaconselham vivamente o acesso ao ecrã para crianças com menos de dois anos de idade.
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