A história é muito simples, hoje em dia, os condutores ainda têm algum receio de comprar um carro elétrico, pelo simples facto de não acreditarem que a autonomia é suficiente para uma utilização dita ‘normal’, e claro, além disso, que a infraestrutura de carregamento ainda não é boa o suficiente.
Por isso, no fim de semana em que fiz 30 anos, decidi cometer algumas loucuras! Uma das quais, passou por pegar num carro elétrico que tinha em teste (Audi Q4 eTron) e fazer um monte de KMs capaz de me arruinar as costas (agora super velhas) para todo o sempre.
Como é que correu? Leia as próximas linhas!
Fiz 1000km num fim de semana com um carro elétrico. Como foi?
Portanto, como fazer 30 anos é um terror psicológico, lá me meti num carro elétrico, e lá me meti a papar quilómetros nas nossas estradas (e autoestradas) Portuguesas, com o simples objetivo de perceber se conseguia mesmo fazer uma vida “normal”, como faria num carro movido a gasolina, gasóleo ou gás natural.
Pois bem, vamos começar com os pontos positivos. Ao dizer que a infraestrutura de carregamento está MUITO MELHOR.
Como é que tiro esta conclusão? É muito simples na verdade! Tive uma experiência horrível com os postos de carregamento em 2018, com o meu primeiro teste Auto, num Tesla Model X P100D, um carro que me encheu as medidas em todos os sentidos, mas que se revelou um autêntico pesadelo em termos de autonomia.
Não porque a Tesla oferece pouca autonomia nos seus veículos. Mas sim porque carregar aquela “besta” era mais complicado que passar na Segunda Circular em hora de ponta.
Especialmente se vivesse numa terrinha, como eu (Salvaterra de Magos), onde o carregador mais próxima estava a uns muito interessantes (e desesperantes) 40 kms de distância. No entanto, felizmente, isto mudou!
Pasme-se! Hoje em dia, até em Salvaterra poderá encontrar um carregador de veículos elétricos, capaz de oferecer uns bastante porreiros 11KWh de potência. Além disto, o carregador mais próximo deste, está agora a 5 kms, em vez de 40, como há 3 anos atrás. Além disto, também existem carregadores rápidos nas cidades mais próximas.
Em suma, hoje em dia, é muito mais fácil carregar um automóvel elétrico, com muitas (e boas) opções à nossa disposição.
No entanto, isto não significa que andar de carro elétrico seja agora um mar de rosas.
Antes de entrar nos pontos negativos, quero dizer que as minhas viagens com o Audi Q4 eTron, nestes dias, correram às mil maravilhas, com todo o conforto na condução que apenas a Audi consegue oferecer. E na verdade, demorei o mesmo exato tempo que muito provavelmente demoraria num outro qualquer carro a combustão.
Afinal, fiz 3 ou 4 paragens, aproveitando todas elas para carregar o automóvel. O que claro está, prova a minha afirmação em cima… As coisas estão mesmo muito melhores! Desde que tenha tempo (e cabeça) para planear a sua viagem.
Aliás, de todos os carros elétricos que experimentei até aqui, este Audi Q4 foi o que mais confiança me deu com as métricas de autonomia elétrica. Ou seja, não são só os pontos de carregamento que estão a melhorar, ao seu ritmo, as fabricantes também estão a lançar automóveis elétricos cada vez mais interessantes no nosso mercado.
Dito tudo isto, agora, vamos entrar nos pontos menos positivos do mundo Full Elétrico Português.
Sim, a infraestrutura de carregamento está (muito) melhor, mas os carregamentos são, infelizmente, caros! Caros ao ponto de afastarem os condutores destes mesmos postos. O sistema é confuso, e dois postos iguais, em sítios diferentes, podem ter um custo de carregamento completamente diferente.
Para ter noção, num carregador de 50KWh, no Porto, paguei mais ou menos 25€ por uma autonomia a rondar os 300KM. Acha um bom preço? Antes de ler o resto do artigo, partilhe connosco a sua opinião nos comentários em baixo!
Dito isto, para ter a noção do custo deste carregamento elétrico, face ao “normal”, vamos fazer então umas contas rápidas!
Vamos supor que um carro a gasóleo, na autoestrada, faz um consumo de 7L por cada 100KMs percorridos (7L/100KM). O preço médio do gasóleo, em Portugal, é neste momento de 1.549€ (Fonte).
Por isso, uma média de 7L aos 100, equivale a 21 litros de combustível gasto em 300KMs percorridos. Assim, temos de fazer 21 litros vezes 1.549€, o que dá um valor total de 32.52€ em combustível queimado nesta viagem teórica.
Um valor que é obviamente mais alto relativamente ao carregamento elétrico, mas que claro, não conta a história toda.
É que meter combustível num automóvel, é uma tarefa para demorar uns 2~5 minutos do seu tempo. Isto enquanto carregar um carro elétrico, dos 0 aos 100%, é uma tarefa para demorar ~90 minutos, se utilizar um carregador rápido, dependendo do carro, e claro, é algo que também obriga a um certo planeamento, e às vezes, a alguns desvios de dezenas de KMs.
Ou seja, tem de fazer alguma ginástica para tentar conciliar a sua vida, com o seu carro. Uma ginástica agora muito mais fácil, mas que ainda assim, continua a existir.
Entretanto, se acha 25€ muito caro para o Audi Q4 eTron, que consegue fazer uma autonomia (mista) de 400KMs, e tem suporte a carregamento rápido… Tem de ficar a saber quanto custa carregar um híbrido plug-in! É aqui que a confusão dos preços de carregamento entra com toda a força, nas nossas cabeças.
Afinal, o meu carro pessoal é um PHEV VW Golf GTE, que com a sua bateria de 7.1KW (usáveis), é capaz de oferecer ~50KM de autonomia elétrica. Dito isto, carregar este carro nos postos públicos é barato e fácil? Nop! Pode tirar desde já o seu cavalinho da chuva.
Afinal, a grande maioria dos postos de carregamento públicos são pagos ao minuto, com uma outra taxa de ativação à mistura, e claro, o sempre presente imposto para os cofres do nosso estado.
Dito tudo isto, aqui é preciso salientar que os postos mais rápidos, têm custos mais altos ao minuto que os postos mais lentos.
Isto é mau? Porquê?
Pagar ao minuto é um sistema que acaba por não fazer muito sentido para a nossa realidade elétrica atual. É que nem todos os carros têm suporte a carregamentos rápidos. Como é o caso do meu Golf GTE, que apenas carrega a 3.7 KWh. Ou seja, vou sempre demorar ~2 horas a carregar completamente a bateria. Quer use um carregador rápido, ou um carregador mais lento.
Isto significa que num posto de 3.7KWh ou 7.4KWh vou pagar qualquer coisa como ~2€, enquanto num posto rápido de 50KWh vou pagar ~10€, pelos mesmos 50KM de autonomia elétrica. Tudo porque o custo por minuto de utilização é muito mais alto, apesar de a energia consumida ser sempre exatamente a mesma. “The system is broken!”
Sim, eu percebo que estar a ocupar o lugar de um carro full elétrico com um híbrido plug-in é mau. Mas neste aspeto, a rede tem de evoluir no sentido de tornar a experiência igual para todos, com mais postos, e menos diferenciação nos custos de carregamento. Afinal de contas, apenas assim podemos esperar uma adoção em massa de carros híbridos e full elétricos.
Esquecendo o preço dos postos públicos, existe um outro problema na equação! Começam a existir poucos postos para os carros elétricos nas nossas estradas.
Por exemplo, na passada quinta-feira, fui ao Centro Comercial Colombo, por volta das 21h, para ir ao cinema ver um filme. Mas a minha noite ficou logo estragada, quando tentei carregar o carro no centro comercial, e todos os postos estavam ocupados.
Isto são boas notícias no sentido em que o mercado está mesmo a passar por uma revolução elétrica, mas também são más notícias, porque em alguns pontos do país, o número de carregadores disponível não está a acompanhar o número de carros elétricos vendidos.
Isto é ainda mais grave quando está na autoestrada, tenta carregar numa estação de serviço, e o posto de carregamento rápido está ocupado com um outro qualquer carro elétrico.
Aqui tem duas opções… Espera que o carro fique carregado e o condutor o venha buscar. (O condutor pode ter falta de civismo, e não retirar o carro mesmo sabendo que este está carregado). Ou então, faz mais ‘X’ quilómetros de autoestrada, e volta a tentar noutro ponto de carregamento, que claro está, pode estar ou não ocupado quando lá chegar.
Aqui, a aplicação MIIO ajuda imenso, oferecendo a localização de todos os postos, a sua potência de carregamento, e claro, se estão em uso ou não. Ainda assim, pode ir à app, ver que o posto está livre, meter as coordenadas GPS, e quando lá chega… Já não está livre.
Isto quase me aconteceu no Porto! Meti o Q4 eTron a carregar num posto rápido, e do nada, só via carros elétricos a passar, ou melhor, a rondar, que nem umas hienas à espera que eu e uma outra condutora retirassem os seus veículos elétricos.
Em suma, a rede de carregamentos é cara, e começa a ser escassa para a quantidade de veículos elétricos na estrada. Assim, se realmente queremos adotar as novas tecnologias, e entrar no mundo 100% elétrico a sério, algumas coisas têm mesmo de mudar.
Entretanto, carregar em casa continua a ser muito vantajoso! E agora é muito mais prático.
Esquecendo a rede de abastecimento pública, temos de olhar para o carregamento nas nossas próprias casa, que hoje em dia, também está muito mais interessante relativamente ao passado recente.
Afinal de contas, já consegue meter as mãos em carregadores fixos, vulgarmente conhecidos como ‘Wallbox“, por cerca de 300~400€. Carregadores já capazes de chegar a 22KWh de potência de carregamento. (Consoante a sua instalação elétrica, claro está!)
Vamos fazer mais algumas contas! Se por ventura pagar 0.20€ por KWh, na sua casa, e o seu carro tiver uma bateria de 100KWh, como o Tesla Model X ou Model S, um carregamento completo irá custar cerca de 20€.
Isto enquanto o Audi Q4 eTron que utilizei para este teste, custaria cerca de 16,4€ a carregar completamente, visto ter uma bateria de 82KWh.
Conclusão
Estamos mesmo a passar por uma revolução na mobilidade elétrica em Portugal! Temos cada vez mais veículos elétricos nas estradas, estes estão cada vez mais interessantes, e a nossa rede de carregamento também está em clara evolução.
Obviamente que ainda há muita coisa que tem de mudar! Mas, nesta altura do campeonato, ter um carro elétrico já não é tão estranho como era há 3, 4 ou 5 anos atrás. O que claro está, é uma notícia simplesmente espetacular.
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